domingo, 8 de abril de 2012

Como saber se uma pessoa sofre de anorexia? O problema tem cura? Forçar a pessoa a comer é recomendável?


Na maioria das vezes (quase 95%), a anorexia acomete mulheres jovens entre 12 e 25 anos (idade de início do quadro). São pessoas que começam uma dieta, por vezes desnecessária, e não conseguem mais parar, buscando metas de peso cada vez mais baixas, até que o emagrecimento é notável (ficam esqueléticas), embora não se sintam magras o suficiente. Em geral não perdem a fome mas a controlam, exercitam-se exageradamente ou mostram- se hiperativas, fazendo muitas coisas e andando para cá e para lá, quase sempre visando a implementar o consumo de calorias. Algumas chegam a apresentar episódios bulímicos em que perdem o controle e comem exageradamente (em geral, tudo que haviam excluído da dieta), e, ficando atormentadas com o eventual ganho de peso, buscam compensar através não só de jejuns ou mais exercícios, mas também através da indução de vômitos ou abuso de laxantes e/ ou diuréticos, hormônios tireoidianos e drogas que inibem o apetite.
A meta é se manter muito abaixo de um peso que seria saudável para sua estatura, sexo e idade (geralmente mais que 15% abaixo do peso ideal ou num índice de massa corpórea menor que 17,5 kg/m), o que freqüentemente faz com que parem de menstruar. Em geral os amigos e familiares tentam intervir e fazêlas perceber o quanto estão magras ou comendo pouco, mas isso é inútil e causa de muitos conflitos, pois negam qualquer alteração ou problema. Tornam-se irritadiças, perfeccionistas, cheias de manias (principalmente rituais alimentares), e isolam-se de contatos sociais, sobretudo os que envolvem comida. Muitas vezes mostram-se tristes e ansiosas. Pode-se alcançar cura em torno de 25% dos casos, sendo que aproximadamente 70% obtêm um controle adequado da situação.
 Pode ser necessário fazer com que a paciente se alimente além do que considera adequado; porém, isso deve ser feito em regime de internação hospitalar, quando não se consegue acordo com a mesma para que colabore com o tratamento ambulatorial.

Angélica M. Claudino
Azevedo
PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO
E ASSISTÊNCIA AOS
TRANSTORNOS ALIMENTARES,
UNIVERSIDADE FEDERAL
DE SÃO PAULO
[CH 156 – dezembro/1999]


Alguns obesos vivem ciclos de emagrecimento e engorda, determinados pela observância ou pela suspensão do regime. Isso traz alguma conseqüência negativa para a saúde?




Em geral, a recuperação dos quilos perdidos faz com que o indivíduo atinja um peso superior àquele que possuía antes de perdê-lo. O organismo age como se houvesse uma “programação” para ganho de peso, que foi interrompida no período de perda. Alguns autores relataram conseqüências negativas dos ciclos de emagrecimento e engorda, conhecidos como “efeito-sanfona” ou “efeito-ioiô”. Contudo, há dúvidas sobre a interpretação desses resultados. Nessa área ainda são necessárias pesquisas bem controladas.
Em experiências com animais e em estudos com humanos, não se determinaram conseqüências adversas do “efeito-sanfona”. Muitos dos resultados a ele atribuídos decorrem da ação nociva do cigarro. O peso de fumantes que tentam abandonar o vício costuma flutuar. Os efeitos nefastos, nesse caso, são causados pelo tabaco.
Devem-se ressaltar os fatores psicológicos decorrentes do fenômeno, que levam à queda da auto-estima e, eventualmente, a distúrbios alimentares, como bulimia (caracterizada pela ingestão excessiva de alimentos seguida de vômitos ou do consumo de diuréticos e laxantes, para “desintoxicar” o organismo) e anorexia nervosa (caracterizada pela recusa voluntária à ingestão de alimentos e pela preocupação excessiva com perda de peso).

Enio Cardillo Vieira
DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA
E IMUNOLOGIA, UNIVERSIDADE
FEDERAL DE MINAS GERAIS
[CH 166 – novembro 2000]

 

Como pode uma pessoa que nunca teve contato com a Aids já nascer imune ao vírus, se seu organismo não conhece a doença?







O HIV, vírus que causa a Aids, infecta principalmente células que apresentam em sua superfície uma molécula chamada CD4 – presente especialmente nos linfócitos T-helper (os que “coordenam” a resposta do organismo a agentes invasores) e nos macrófagos (leucócitos que ‘ingerem’ e digerem os agentes invasores, apresentando ao sistema imunológico os antígenos que desencadeiam a resposta contra os mesmos). A molécula CD4 serve como receptor do vírus, assemelhandose a uma “fechadura“ que ele precisa abrir para entrar na célula.
Para infectar células humanas, porém, é preciso abrir, ao mesmo tempo, outra
fechadura (uma molécula denominada receptor de quimiocinas), que serve de coreceptor para o vírus. Quimiocinas são substâncias usadas por células do sistema de defesa como um sistema de comunicação, e a presença de seus receptores (entre eles a molécula CCR5) na superfície de células também é essencial para que a infecção ocorra.
Segundo dados já conhecidos, os indivíduos que apresentam mutação em ambos os alelos (cópias) do gene que codifica a CCR5 (cerca de 1% da população caucasiana) seriam menos suscetíveis à infecção pelo HIV, pois este não conseguiria abrir essa fechadura modificada.
Nos que têm apenas um alelo mutado (cerca de 15% das pessoas com ascendência européia), a progressão da imunodeficiência causada por esse vírus é mais lenta.

Mauro Schechter
LABORATÓRIO DE AIDS,
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO,
UNIVERSIDADE FEDERAL
DO RIO DE JANEIRO
[CH 185 – agosto 2002]

Como a galinha forma a casca mineralizada do ovo em tempo tão curto?




Há três camadas formadoras da casca das aves (de dentro para fora): as membranas da casca, que envolvem a clara; a parte calcificada, também conhecida como “testa”; e a cutícula, uma finíssima camada externa de material orgânico que determina se a casca é áspera ou lisa. A dúvida do leitor está na formação da testa, a parte em que o processo de mineralização atua. A rapidez do processo está relacionada à espessura dessa camada, que varia de 60 micrômetros, em beijaflores, a 4 mm, nas extintas aves-elefante. Ela é composta, basicamente, por duas regiões, uma interna, o “capuz basal”, e outra que cresce sobre ela, a “camada estacada”. A camada estacada forma a maior parte da testa e cresce na forma de colunas de cristais de calcita a partir de centros de cristalização situados no capuz basal. Essas colunas, compostas por cristais de crescimento rápido, entram em contato e passam a formar anéis de crescimento até completarem a espessura total da casca. O fato de a calcificação ter vários pontos de irradiação (colunas) ao mesmo tempo também aumenta a velocidade do processo.

Marcos Raposo
DEPARTAMENTO
DE VERTEBRADOS,
MUSEU NACIONAL,
UNIVERSIDADE FEDERAL
DO RIO DE JANEIRO [CH 205 – junho/2004]

Por que as hemácias dos mamíferos não têm núcleo e como podem viver por 120 dias?




Durante o processo evolutivo, os mamíferos elevaram sua temperatura corporal e desenvolveram a capacidade de mantêla relativamente constante (homeotermia). Esse aumento da temperatura corporal foi acompanhado de um incremento da taxa metabólica e de uma exigência maior no transporte de oxigênio (O2).
Sendo o núcleo celular uma estrutura metabolicamente ativa, ele consome quantidades consideráveis de O2. Com a perda do núcleo, as hemácias dos mamíferos deixaram de utilizar oxigênio, tornando-
se mais eficientes no transporte desse gás. As hemácias dos mamíferos, por não possuírem núcleo, não são rigorosamente células: portanto, o correto é dizer que elas “duram“, em vez de “vivem”, 120 dias. 

[CH 171 – maio/2001]

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Pandas macho têm um pico reprodutivo anual!



Fêmeas só têm um período fértil anual, com duração de até 72h. Pico na produção de esperma é uma preparação para o momento das fêmeas.

As fêmeas dos pandas gigantes têm um período fértil bastante curto. Apenas uma vez por ano, entre fevereiro e maio, elas entram em um estágio de excitação sexual que precede a ovulação. O momento dura somente entre 24 e 72 horas. Agora, cientistas descobriram que pandas macho também apresentam um período fértil específico.
Entre 3 e 5 meses antes da excitação sexual da maioria das fêmeas, a atividade reprodutiva do macho vive um pico. A constatação foi feita através da análise da concentração de esperma, níveis de androgênio e comportamento sexual de oito machos, em diferentes momentos do ano. Eles foram acompanhados por três anos.
Segundo os cientistas, os machos precisam estar preparados para o "breve e imprevisível" momento de excitação máximo das fêmeas. Isto poderia explicar o motivo pelo qual o pico reprodutivo dos machos antecede o das fêmeas.
Os pandas gigantes são uma espécie ameaçada. O habitat do animal se restringe hoje a poucas áreas montanhosas na parte central da China. Esforços de preservação resultaram em diversos nascimentos de pandas em cativeiro. Segundo os autores da pesquisa, é importante conhecer as características reprodutivas dos pandas para aumentar o número de nascimentos.
A pesquisa foi publicada nesta quarta-feira (4) na revista científica "Biology of Reproduction's Papers-in-Press".

Cientistas analisaram hormônios, produção de esperma e comportamento reprodutivo de oito pandas macho. (Foto: Divulgação / Chengdu Research Center for Panda Breeding / Zhang Zhihe)