Os
bivalves (ou lamelibrânquios) são moluscos abundantes e
diversos, constituídos por duas valvas calcárias que encerram
as partes moles. As valvas articulam-se numa charneira que possui, geralmente,
dentes, fechando-se devido à acção de dois músculos.
A maior parte apresenta simetria bilateral, sendo o plano de simetria
correspondente ao plano de separação das valvas. São
animais maioritariamente marinhos, bênticos infaunais ou epifaunais,
alimentando-se por filtragem (filtram a água que passa através
do sifão.
Existem
desde o Câmbrico, tendo sofrido uma expansão significativa
a partir do Mesozóico. São particularmente abundantes
nas unidades do Jurássico e do Cretácico superior do Baixo
Mondego.
Exemplo
de bivalves actuais (colónia de mexilhões e vieira):
Estrutura
de um bivalve (Berbigão - Cerastoderma edule) vivo:
Estruturas
das conchas dos bivalves:
Modos de vida dos Bivalves e respectiva morfologia da concha:
Alguns fósseis de Bivalves do Baixo Mondego:
Os fósseis da bacia de Sergipe-Alagoas
Os moluscos bivalves
Os moluscos
bivalves
Edilma de Jesus Andrade* & Jens Seeling#
* Univ. Federal de Sergipe/Fundação
Paleontológica Phoenix, Aracaju, Sergipe, Brasil (e-mail: edilmaandrade@hotmail.com)
# Universität Heidelberg,
Geologisch-Paläontologisches Institut, Alemanha (e-mail: Jens.Seeling@urz.uni-heidelberg.de)
Qualquer pessoa ao andar
pela praia encontra com certa facilidade conchas de mariscos na areia. Algo semelhante
acontece se visitarmos uma das muitas pedreiras de calcário no interior de Sergipe, onde
"pisaremos" sobre uma grande quantidade de fósseis desses animais. Eles viveram
e morreram há milhões de anos sobre o fundo do recém-aberto Atlântico Sul e hoje nós
achamos os restos animais petrificados em camadas depositadas naquele período.
A Classe
Bivalvia Linné, 1758, também conhecida como Pelecypoda ou Lamellibranchia,
caracteriza-se por moluscos que possuem uma concha com duas valvas articuladas, incluindo
formas populares como ostras e mexilhões. Na identificação dos bivalves são utilizados
alguns caracteres tais como morfologia e microestrutura da concha, tipo de charneira,
cicatrizes musculares, presença ou ausência de sinus palial e a morfologia das
brânquias. Nos fósseis somente as conchas ou suas marcas são preservadas, e
consequentemente, os paleontólogos dispõem, apenas desses características para seus
estudos (Figura 1). Já os biólogos que estudam espécies recentes podem também analisar
a parte mole desses animais.
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Figura 1 - Principais caracteres morfológicos dos moluscos
bivalves.
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Os bivalves já habitam a Terra desde o início do período
Cambriano (Figura 2), há mais de 500 milhões de anos, alcançando maior auge na era
Mesozóica. Desde então eles ganharam cada vez mais importância e tornaram-se, a partir
do Cretáceo, um dos mais importantes elementos da fauna marinha. No Terciário passaram a
ser o grupo dominante de invertebrados de concha dura, ao contrário dos braquiópodos,
grupo de invertebrados que também tem duas valvas. Atualmente existem mais de 20.000
espécies de bivalves e quase o mesmo número de formas extintas.
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Figura 2 - Diversidade dos moluscos
bivalves desde sua origem.
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De modo geral os bivalves apresentam uma ampla
distribuição vertical ou estratigráfica (geocronológica) e por isso não são
considerados bons fósseis-guia. Uma exceção ocorre com o grupo dos bivalves
inoceramídeos, que são valiosos na bioestratigrafia do período Cretáceo por
apresentarem uma rápida evolução e ampla distribuição geográfica. Devido à sua
importância, esse grupo será tratado separadamente no próximo número.
A maioria dos
moluscos bivalves são marinhos. Alguns gêneros são encontrados em ambientes de água
doce. A evolução da alimentação por filtração levou esse grupo a colonizar e se
adaptar aos diversos hábitats e modos de vida: cavadores de fundo mole, que podem viver
parcialmente enterrados (semi-infaunais), ou to-talmente enterrados (infaunais);
habitantes de superfície (epifaunais), com formas não fixadas (livres) ou fixadas à
superfície através de filamentos de bisso ou cimentadas. A morfologia e demais feições
da concha são importantes no diagnóstico do modo de vida desses organismos, na
reconstrução ambiental e demais considerações paleoecológicas.
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Na bacia de Sergipe os fósseis de bivalves marinhos são
abundantes e muito diversificados. Ocorrem em diversos tipos de litologias, incluindo
calcários, folhelhos, siltitos e arenitos. São encontrados nos mais variados estados de
preservação, desde conchas totalmente preservadas a moldes internos e externos.
Nos depósitos do
Cretáceo inferior de Sergipe (ca. 125 Ma) ocorrem grandes acumulações de conchas de
bivalves de água doce depositadas num sistema lacustre. Já no início da fase marinha da
bacia, no Aptiano-Albiano (entre 115 e 95 Ma atrás), encontra-se uma grande diversidade
de bivalves de águas rasas. Entre os bivalves infaunais de Sergipe destacam-se as formas
alongadas do gênero Pleuromya. Em associação encontra-se grande abundância de
outros bivalves tais como Pterotrigonia, Tellina, Pinna, além de
lucinídeos. Como importante componente da epifauna, destaca-se o gênero Neithea,
que ocorre principalmente em arenitos e calcários.
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Figura 3 - Alguns bivalves fósseis do Cretáceo da bacia de Sergipe: a – Lopha
sp; b – Pterotrigonia sp; c – Neithea sp.
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Os ostreídeos, por sua vez, apresentam uma ampla distribuição
do Aptiano ao Campaniano, com grande diversidade de espécies. São bivalves indicadores
de ambiente marinho raso, encontrados em muitos afloramentos do Cenomaniano (ca. 95 Ma),
tornando-se menos abundantes no final desse estágio. Já no Turoniano, os inoceramídeos
do gênero Mytiloides foram um dos componentes mais importantes na fauna de
bivalves. Essa mudança na fauna reflete a subida relativa do nível do mar, que
consequentemente condicionou o aprofundamento do ambiente deposicional.
Muitos gêneros e
espécies que são encontrados em Sergipe, também são observados em bacias sedimentares
de outras regiões. As afinidades das faunas de bivalves encontradas nos dois lados do
Atlântico Sul indicam claramente a proximidade dos continentes africano e sul-americano
durante o Cretáceo.
As primeiras
descrições de bivalves cretáceos de Sergipe foram publicadas no final do século XIX1.
Outro trabalho importante foi escrito no final da década de 302. Após esses
trabalhos, essa classe foi pouco estudada. No momento, vem sendo realizado um trabalho de
descrição de bivalves do Albiano inferior e Cretáceo superior (Cenomaniano-Coniaciano),
cujos resultados foram, em parte, publicados.
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1White,
C.A. 1887. Contribuções à paleontologia do Brazil. Archivos do Museu Nacional do
Rio de Janeiro, 7, 1–273.
2Maury, C.J. 1937.
O Cretáceo de Sergipe. Serviço Geologico e Mineralogico do Brasil, Monographia,
11, 1–283.
3Andrade, E. de J. & Souza-Lima, W. 1999. Neithea
cf. tricostata Coquand (Bivalvia - Pectinidae) no Albiano inferior de Sergipe. In
Congresso Brasileiro de Paleontologia, 16, Crato, Ceará. So-ciedade Brasileira de
Paleontologia. Boletim de Resumos, p. 16.
4Seeling, J. &
Bengtson, P. 1999. Cenomanian oysters from the Sergipe Basin, Brazil. Cretaceous
Research, 20: 747–765.
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